domingo, 31 de dezembro de 2017

Migrantes: intervenções “humanitárias” geralmente fazem as coisas piores – Entrevista com Alain de Benoist



Alain de Benoist
A entrevista que segue foi primeiro publicada em Boulevard Voutaire; traduzida do francês para o inglês por Tom Sunic.


Q: A foto daquela criança síria encalhada na praia está agora em processo de se tornar uma nova página na opinião europeia. Em nossa época de “narrativas” é evidentemente que a questão do migrante é um “drama humano.”.

            Naturalmente é um “drama humano.” É preciso alguém ter um coração seco ou estar cego de ódio se não reconhecer isso. Muçulmanos ameaçados pelo islamismo jihadista, famílias inteiras fugindo de um Oriente Médio desestabilizado pelas políticas ocidentais – naturalmente isto é um “drama humano.” Mas isto é também uma questão política e mesmo uma questão de geopolíticas. Daí a necessidade de descobrir o relacionamento entre a esfera política e a esfera humanitária. Bem, a experiência tem mostrado que intervenções “humanitárias” geralmente somente agravam ainda mais as coisas. O predomínio das categorias legais sobre as categorias políticas é uma das principais causas de impotência dos estados.

             O tsunami migratório o qual nós estamos testemunhando está ganhando o tamanho de um desastre. Primeiro, houve um cálculo baseado em milhares de refugiados, então dez mil; então centenas de milhares. E agora mais que 350,000 migrantes têm cruzado o Mediterrâneo nos recentes meses. A Alemanha tem concordado em aceitar, 800,000 deles, muito mais que o inteiro registro de nascimento deles próprios por ano. Nós estamos muito a frente da imigração intersticial de trinta anos atrás! Encarando isto como um ataque os países europeus estão se perguntando a si mesmos: “Como nós vamos receber eles?”. Nunca eles perguntam a si mesmos: “Como nós iremos prevenir eles de entrarem?” Mesmo o Ministro de Relações Exteriores francês, Laurent Fabius, considera “escandalosa” a atitude dos países que desejam fechar suas fronteiras. Irá ser o mesmo jeito quando o número de migrantes que entraram estiver contado em milhões? Estarão os políticos mais preocupados em relação aos incontáveis “dramas humanos” acontecendo no mundo agora mesmo mais do que com o bem comum de seus próprios cidadãos? Este é o núcleo da questão.

            Além das emoções desencadeadas pelo “choque das fotos”, que argumentos estão sendo oferecidos por aqueles que querem convencer-nos do mérito das migrações?

            Aqueles argumentos estão sendo exibidos em dois níveis; primeiro o argumento moral (“estes são nossos irmãos, nós temos uma obrigação moral para com eles”); e então o argumento econômico (julgando pelas palavras de William Lacy Swing, o Chefe Executivo da Organização Internacional para Migração; “Migrações são necessárias se nós queremos uma economia próspera.” O primeiro argumento embaralha junto a moralidade privada e pública e a moralidade política, ambas delas tendo suas origens na crença do universalismo. Aqueles que usam estes argumentos consideram que antes de serem um homem francês, um alemão, um sírio ou um chinês, indivíduos são primeiro “seres humanos”, isto é, eles pertencem a uma imediata forma de humanidade, onde de fato eles pertençam à uma humanidade numa forma mediata através de uma específica cultura a qual eles nasceram e na qual têm herdado. Para eles, o mundo é habitado por “pessoas” abstratas, sem raízes, cuja característica comum é a intercambialidade.  Enquanto para culturas – eles veem elas somente como epifenômenos {Produto acidental, acessório, de um processo,  de um  fenômeno essencial, sobre o qual não tem efeitos próprios [1]}. Isto é o que Jacques Attali, disse  na revista Cadmos em 1981 : “Para mim, a cultura europeia não existe, nem tem ela nunca existido.”

Judeu e globalista que atua na França, Jacques Attali disse  na revista Cadmos em 1981 : “Para mim, a cultura europeia não existe, nem tem ela nunca existido.”

            O Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas tem recentemente divulgado um relatório sobre os países europeus no qual diz que “na ausência de reposição por migrações o declínio populacional é inevitável.” Ele também afirma que “para a Europa, como um todo, o que é necessário é duas vezes o nível de imigração, como registrado nos anos de 1990” – impedimento o qual a aposentadoria irá ser estendida para 75 anos.  A Europa está envelhecendo, a imigração irá salvar isso; esta é a perfeita ilustração da ideia que o homem é intercambiável, indiferente de sua origem. Portanto imperativos econômicos devem prevalecer sobre todos os outros imperativos. A ética de “direitos humanos” é somente uma cobertura para interesses financeiros.

Q: Inquestionavelmente existe também um aspecto demográfico para isso. Você conhece aquelas palavras do ex-Presidente da Argélia Houari Boumédiène, a qual o povo da direita sempre repete: “Algum dia milhões de homens irão deixar o Hemisfério Sul e se mover para o Hemisfério Norte. Eles não irão lá como amigos; eles irão lá afim de conquistar. E eles irão conquistar com os filhos deles. A barriga de nossas mulheres irá assegurar a vitória.” É esta a Grande Reposição?

            De acordo com alguns, Boumédiène deve ter proferido estas observações em fevereiro de 1974 na 2ª reunião de cúpula islâmica, em Lahore, no Paquistão. De acordo com outros, ele disse aquelas palavras em 10 de abril de 1974, a partir da tribuna das Nações Unidas. Esta incerteza é reveladora, especialmente conforme o inteiro texto de seu suposto discurso não tem nunca sido feito público para ninguém. Houari Boumédiène, que não era um tolo, sabia bem que o Oriente Médio é no Hemisfério Norte, não no Hemisfério Sul! Então existe uma boa chance que este é um texto apócrifo.

            Tão avançado como este tópico está em pauta é mais prudente ouvir os demógrafos. A população do continente africano tem aumentado de 100 milhões em 1900 para mais de um bilhão hoje. Em 2050, ou daqui a trinta e cinco anos, existirá entre dois a três bilhões de africanos, com quatro bilhões ao fim do século. Embora as relações demográficas não possam ser reduzidas para um fenômeno de vasos comunicantes, seria ingênuo esperar que tal crescimento populacional prodigioso, o qual nós mesmos temos também fomentado, não irá ter nenhum impacto nas migrações futuras. Conforme Bernard Lugan observou: “como nós podemos esperar que migrantes irão parar sua corrida para o ‘paraíso’ europeu se este ‘paraíso’ é não defendido e habitado por velhos homens?” A Grande Reposição? Bem, pessoalmente, eu prefiro falar sobre “a Grande Transformação.” Em minha opinião a Grande Reposição irá ocorrer com a substituição do homem pela máquina, isto é, a substituição da inteligência artificial para inteligência humana. Um perigo muito mais próximo do que nós podemos possivelmente imaginar.

Tradução e palavras entre chaves por Mykel Alexander



Notas


[1] Nota por Mykel Alexander: Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, Editora Objetiva, Rio de Janeiro, 2001, primeira edição. Vocábulo epifenômeno.

Sobre o autor: Alain de Benoist (1943 – ) é um acadêmico e jornalista francês formado em Direito (Universidade de Paris, especializado em Direito Constitucional) e Filosofia (Universidade de Sorbonne, especializado em Sociologia e História das Religiões). De vasta obra literária, escreveu mais de 60 livros assim como ultrapassou a marca de 4500 artigos escritos, 50 teses universitárias, e 140 reportagens, e na atualidade é uma das mais respeitadas autoridades sobre a cultura ocidental. Por quatro anos foi editor da revista semanal L'Observateur europée, depois foi editor da L'Echo de la presse et de la publicité's, em 1969 assumiu o cargo de editor da Nouvelle Ecole, cargo que ocupa até hoje, e desde 1988 tem sido editor da revista Krisis.

Dentre seus livros foram traduzidos para português:

Nova Direita Nova Cultura – Antologia crítica das ideias contemporâneas; Editora Afrodite, 1981, Lisboa – Portugal.

Comunismo e nazismo – 25 reflexões sobre o totalitarismo no século XX (1917 – 1989), Editora Hugin, 1989, Lisboa – Portugal.

Odinismo e Cristianismo no Terceiro Reich – a Suástica contra a Irminsul – Editora Antagonista, 2009, Portugal; capítulo A fábula de um “paganismo nazi”.

Para Além dos Direitos Humanos – defender as liberdades – Editora Austral, Porto Alegre, 2013.

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O fim da globalização - Por Greg Johnson

5 comentários:

  1. A maior parte da atual migração criminosa à Europa vem claramente dos estados muçulmanos da África, com alguns tantos do OM.
    Logo, creio que a frase do argelino foi tão real quanto profética.

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  2. Parabéns camarada, um ótimo texto. Parabéns pelo trabalho!

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  3. "Gregos queimam centro de acolhida para impedir uso por refugiados
    Milhares fogem de guerra na Síria"

    https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/03/moradores-gregos-queimam-centro-de-acolhimento-para-impedir-que-refugiados-o-utilizem.shtml

    Três colocações:

    1º A Siria sem intervenção sionista/neocon não tinha quase nada de problemas comparado ao que tem agora depois de tais intervenções 'humanitárias'. Este é o problema central!

    2º Que vão para Israel que é a alegada democracia do Oriente Médio, e não para a Europa.

    3º Há inúmeros países fora da Europa para os tais migrantes irem, e que não são de brancos. Seria uma ótima demonstração de que não é necessário a qualidade europeia para se reestabelecer!

    Força Grécia!!!

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  4. O tempo vem só comprovando o que Alain de Benoist no artigo presente considerou: que ao contrário do que os globalistas afirmam, os povos não são intercambiáveis por outros, de modo que ao entrarem povos não europeus na Europa, esta esta se tornando um país do chamado terceiro mundo, bem na visão dos anos do século XX. Abaixo link em que Pierre Brochand, ex diretor de segurança e ex-embaixador francês estima que se a França continuar a receber imigrantes, logo será um país de terceiro mundo. E isso quer dizer terceiro mundo como nos anos do século XX eu insisto, juntando o pior da selva e das favelas (com sua realidade diária sem eufemismos).

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