sexta-feira, 25 de maio de 2018

Um grego e um persa: A influência de Platão sobre o aiatolá Khomeini - Por Alina Utrata


Alina Utrata
Em 1970, um grupo de estudantes do seminário publicou uma séria de palestras sobre a teoria islâmica de governo intitulada Velayat e faqih ou A Guarda do Jurista Islâmico. O autor destas palestras foi o aiatolá Ruhollah Khomeini – o clérigo que, somente dez anos depois, iria estabelecer a República Islâmica do Irã. Em Velayat e faqih, Khomeini argumentou que enquanto esperava pelo retorno do Madhi – o 12º sucessor do profeta – um líder religioso que deveria ser nomeado o custodiante do Estado, “como a nomeação de um guardião para um menor.” O Estado perfeito, pregou Khomeini, deveria ser mandado por um jurista islâmico.

            O sonho de Khomeini foi realizado no Irã após protestos populares derrubarem o regime secular do Xá em 1979, permitindo Khomeini consolidar poder e estabelecer a República Islâmica. Mas o que é surpreendente sobre Khomeini é que, para um revolucionário que veio ao poder montando nos caminhos da retórica antiocidental, sua descrição do estado perfeito é quase idêntica da República de Platão.

            Foi observado por alguns estudiosos que existe uma semelhança de ideias entre Khomeini e Platão. Na Teologia do Descontente, Hamid Dabashi mencionou que a concepção de governança de Khomeini foi essencialmente regida pelo “rei filósofo” platônico. Beatrice Zelder destacou que “a resposta para o contexto filosófico do Estado Islâmico [de Khomeini]... é Platão adaptado ao islam.”

            Estas observações estão exatamente certas. Platão e Khomeini ambos advogam por um estado regido por guardiões baseados na crença que humanos irão sucumbir ao materialismo e corrupção sem a adequada orientação. Khomeini, contudo, justifica e altera alguns aspectos da República de Platão com as tradições islâmicas em uma tentativa de reconciliar os dois.

 Aiatolá Khomeini

            Khomeini tinha certamente lido Platão. A Time Magazine tinha publicado um artigo sobre Khomeini em 1979 alegando que, em sua juventude, Khomeini era “fascinado com Aristóteles e Platão, cuja República forneceu o modelo para o conceito de república islâmica de Khomeini.” De acordo com Vanessa Martin, os ex-alunos de Khomeini Javad Bahonar e Madhi Há’iri Yazdi tinha revelado a influência de Platão sobre os pensamentos de Khomeini em um entrevista com a repórter do Time. Khomeini referenciou um dos livros de Platão, Timeu, em seu próprio livro Kashf al-asrar ou O Desvelar dos Segredos. Embora Khomeini nunca confirmou a exata natureza de como ele foi influenciado por Platão, é claro que ele tinha lido o filósofo grego em alguma profundidade.

            As contundentemente similares repúblicas perfeitas que Khomeini e Platão descreveram são baseadas em muitas suposições compartilhadas sobre a natureza humana e o papel do Estado. Os dois homens afirmaram que sem a guia de um adequado governo, o povo torna-se corrupto. Platão dedicou um inteiro livro na República para lamentar a sociedade sem governo adequado, chamando ela de um medonho estado onde o “homem tirânico... torna-se embriagado, lascivo, apaixonado.” Similarmente, Khomeini argumentou que sem a apropriada autoridade “todos iriam engajar em oprimir e prejudicar os outros para o prol de seus próprios prazeres e interesses.”

Platão  428/427 – 348/347 a.C.
            Para combater a inerente corrupção humana, os dois acreditaram que o ocupante central de um Estado perfeito deve ser a justiça. Platão afirmou em seus ensinamentos que “o assunto de nossa investigação é [a justiça]”; na mesma linha, Khomeini frequentemente lembrou aos seus líderes que o profeta Maomé “tinha em mente que iria empreender o estabelecimento da justiça.” Platão e Khomeini concordaram: “cidades nunca irão ter descanso de seus males [da corrupção]” até o estado for baseado na justiça e governado por um guardião.

            Este perfeito guardião, de acordo com Platão, deve ser um filósofo. Um filósofo, ele disse, é um “verdadeiro amante do aprendizado” e, portanto, iria “traçar o delineamento de uma constituição” limitada por nada senão a verdade. O governante iria determinar leis e justiça, motivado pelo que iria ser melhor para a cidade. Enquanto o guardião de Khomeini assemelha-se a Platão na maioria de suas características, Khomeini alterou levemente as ideias de Platão para comportar o Islã; Khomeini substituiu “filósofo” por “jurista islâmico.” Ele argumentou que “o Mais Nobre Mensageiro é o exemplo de proeminente do justo governante” e é natural que seus sucessores sejam os governantes. Em vez de derivar legitimidade da verdade, o guardião iria estar sujeito a lei corânica. Khomeini disse que “o governo islâmico é ... constitucional ... no sentido que os governantes são sujeitos à ... condições estabelecidas no Nobre Alcorão e na Sunnah do Mais Nobre Mensageiro.”

            Ambos Platão e Khomeini estipularam que os guardiões devem possuir conhecimento e a habilidade para dispensar justiça. Platão afirmou que o guardião necessitaria possuir “o amor de aprender... e espírito, rapidez e força.” Khomeini também nomeou umas poucas qualidades necessárias de um guardião, citando “conhecimento da lei e justiça” como os mais críticos. Khomeini, contudo, revestiu esta qualificação com a retórica do islã. Ele argumentou que “esses são precisamente os assuntos que o faqih tem estudado,” então, portanto, era natural que um jurista islâmico iria ser o melhor guardião para o Estado.

            Platão e Khomeini cada um ditou condições estritas para como os guardiões devem conduzir eles próprios. Platão afirmou: “nossos guardiões [não devem] não devem ser dado ao riso” e “a embriaguez, a suavidade e indolência são completamente impróprias para o caráter de nossos guardiões.” Khomeini reiterou muito do mesmo, dizendo que “os fuqaha são os curadores dos profetas, tanto quanto eles não se preocupem eles próprios com os desejos ilícitos, prazeres, e riquezas do mundo.” Guardiões, eles disseram, não devem ser “criaturas materialistas tentando acumular riquezas mundanas.”

            É o papel destes guardiões não corruptos, Platão e Khomeini acreditavam, interferir na vida de seus súditos a fim de protege-los da corrupção. Platão gastou uma extensa quantidade de tempo discutindo vários aspectos do Estado perfeito, incluindo o “tipo de comunidade de mulheres e crianças” e como “administrar o período entre nascimento e educação.” Para Platão, a maioria deste controle é para o propósito de manter a pureza da classe guardiã. Platão postulou que pessoas são feitas de diferentes metais “de ouro e prata e bronze e ferro,” e que a classe dos guardiões é feita de ouro. Portanto, ele estipulou cerimônias de procriação, esposas e crianças comunais e vários outros controles sociais.

            Khomeini, por outro lado,  justificou a habilidade de seus guardiões de interferir na vida de seus cidadãos com o islã. Ele disse que o Alcorão é abrangente em suas decisões sobre o comportamento adequado na vida, dos “deveres... enquanto a criança está sendo amamentada... e como a criança deve ser criada, e como marido e esposa devem se relacionar um com outro e com seus filhos.” Desde que o Alcorão tinha regras sobre todos aspectos da vida, o guardião estava, portanto, justificado, a interferir em todos aspectos da vida. Khomeini defendeu os mesmos direitos sobre a interferência como fez Platão, mas apenas o fez com as tradições islâmicas.

 Aiatolá Khomeini
            Proteger os cidadãos das influências corruptoras estava sempre na prioridade das mentes de Platão e Khomeini. Eles ambos acreditavam que eles poderiam enganar o público para o bem de proteger o público. Para este fim, Platão acreditou que os guardiões do Estado deveriam “ter o privilégio de mentir... para o bem do público.” Guardiões conheciam melhor que os homens comuns, e, portanto, são mais aptos a discernir o que eles devem e não devem saber. De fato, Platão afirmou que “a primeira coisa [a fazer em nosso Estado] irá ser estabelecer a censura para os escritores de ficção.” Platão estava preocupados sobre o efeito que a prevalência de ideias erradas iriam ter na juventude e na concepção de mundo delas. Portanto, eles devem “colocar um fim em tais histórias, para que não entre o laxismo da moral entre os jovens.”

            Khomeini certamente tomou o conselho de Platão sobre a censura dos livros. Existe um extensivo mecanismo para censura de publicação no Irã. Khomeini estava claramente preocupado, como Platão estava, sobre a corrupção da sociedade se as massas lessem certos livros. Ele novamente usou o Islã como justificativa para o ponto de Platão sobre a necessidade de censura: a Constituição da República Islâmica do Irã reconhece liberdade de expressão “exceto quando ela está em detrimento dos princípios fundamentais do Islã ou os direitos do público.”  Enquanto Platão diz livros que engendram moral negligente deveriam ser banidos, Khomeini disse que livros contra os princípios do Islã deveriam ser banidos.

            Contudo, os dois homens não acreditavam que essas leis fossem mal-intencionadas. Ambos Khomeini e Platão acreditavam que era importante os guardiões amarem a cidade. “Um homem,” disse Platão, “provavelmente se importará com aquilo que ele ama.” Portanto, Platão postulou, um guardião irá ser um melhor guardião se ele ama sua cidade. Khomeini, também, afirmou as duas mais importantes qualidades num crente é que eles são “capazes de executar justiça” e “devem mostrar o máximo amor e solicitude sempre que eles forem chamados.” Ambos reconheceram a necessidade de seguir a linha entre executar justiça e compaixão.

Platão retratado na Scuola di Atene (1509–1511) de Rafael Sanzio  

            De novo e de novo em toda Velayat e Faqih, Khomeini adotou as ideias fundamentais de Platão e ajustou-as de acordo com seus próprios propósitos. Embora Khomeini possa ter usado o Islã e tradições islâmicas para justificar um Estado Islâmico, o Estado de Khomeini se parece apenas como a República de Platão.

            De fato, a única maneira considerável que Khomeini desviou de Platão foi sua crença no universalismo de um Estado Islâmico. Khomeini acreditou que “o movimento universal de todos os muçulmanos alertas poderia estabelecer um governo islâmico no lugar de regimes tirânicos.” Esse tipo de Estado é universal: não confinado a apenas um país. Platão, por outro lado, acreditou que “um é suficiente” Se existe “um homem que tem uma cidade obediente a sua vontade,” Platão pensou que sozinho será o estado perfeito. Este é a única maneira mais importante que Platão e Khomeini divergem: o alcance do Estado perfeito.

É claro a partir de uma comparação dos dois textos que Platão influenciou a concepção de Khomeini de uma perfeito Estado. Ambos acreditavam que seres humanos são facilmente corruptíveis e que é necessário estabelecer o governo pelos guardiões para manter os humanos no caminho certo. Eles ambos enfatizaram a justiça e o bem da comunidade inteira como base do governo. Os guardiões deles são instruídos e sábios, abnegados e compassivos, e imunes à corrupção dos prazeres materiais. Estes guardiões têm o direito de interferir em todos aspectos da vida dos súditos deles, a fim de protegê-los das influências corruptoras.

Com a distinta exceção do universalismo, quase todos aspectos do estado perfeito retratado por Khomeini e Platão existem em paralelo. Parece que Khomeini tomou as ideias de Platão e justificou ou alterou elas com tradições islâmicas – um jurista islâmico, ao invés de um filósofo; escolas religiosas, ao invés de educação científica.

O que nós devemos extrair desse vislumbre é que o Irã não foi tomado por “mulás loucos” nos anos 80. Enquanto a República Islâmica do Irã alega rejeitar o Ocidente, seu fundador e sua fundação foram influenciadas por um dos mais renomados pensadores políticos ocidentais – Platão. Embora seja impossível saber exatamente como o filósofo pode ter impactado Khomeini, os gregos têm certamente tido uma mão em formar o Estado que os persas estão vivendo hoje.

Tradução por Mykel Alexander  


Sobre a autora: Bacharel em História e Direito, com especialização em Direitos Humanos, Stanford University. Trabalhou na Asian International Justice Initiative em Phnom Penh, no Balkan Institute for Conflict Resolution, Responsibility and Reconciliation em Sarajevo, no State Department’s International Narcotics and Law Enforcement Bureau em Washington D.C., e no WSD Handa Center for Human Rights and International Justice em Stanford.



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5 comentários:

  1. Perfeito, faz muito sentido no que se refere nono livro "A República" e no contexto histórico atual do oriente médio. Gostei bastante!

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  2. Caro Mykel
    O que entendo é que na teoria a proposta Platônica funciona, mas na prática não se aplica.
    A razão é simples, tudo em uma sociedade é regido primeiramente pela herança, ou seja, a validade do cidadão é intrinsecamente regida pela qualidade reprodutiva dos pais, pais de má qualidade, prole de má qualidade! Não obstante seja pertinente o nascimento do mutante, aquele que extrapola sua condição ordinária de herança. Entretanto é evidente que essa situação é rara, excepcional, ou seja, mais vale a observancia extrita do direito reprodutório do macho de boa estirpe do que apostar no acaso mutante! Visto que e república, ou qualquer outro regime social passa inexoravelmente pela qualidade individual e não só a capacidade do maestro!
    Com músicos medíocres, a orquestra pode até ser bem regida mas não tera a qualidade virtuose que garante o destaque. E nessa situação, embora o maestro seja fantástico será ofuscado pelo maestro mediocre mas com uma orquestra virtuosa, ou seja, a pior liderança faz mais estragos do que a boa faz proficiencias. Pois a qualidade do todo se dá pela qualidade de cada peça! Não se faz o melhor relógio com algumas peças vagabundas, ele acabará sempre ficando aquém da proposta, enquanto o relógio até tosco mas com peças sublimes terá um rendimento superior, nem que seja com o passar do tempo.
    Assim, fica patente que nenhum regime social tem eficácia onde a agregação é baseada na permissão sexual, onde todos têm direito à reprodução ou ao ato reprodutório.
    Até porque o amor superior, já despido do apelo bruto da matéria, só se manifesta nos espíritos superiores! Os mais embrutecidos sequer conseguem entender essa questão, o hedonismo é a paga do hedonismo! É o clássico prazer pelo prazer!
    Assim, chegamos na questão que em minha opinião é incontornavel, que é a seletividade perpetuatória!
    E isso implica em despir da esperança erótica a base de qualquer república, o "boi que puxa o arado"!
    Sem esse, a república não se configura, pois é invocada a condição aldeã, onde um clã se basta tendo em seu seio todos os processos artesãos dominados entre seus pouco membros com eficácia superior, aos outros, os tais bois de carga, só sobra o lado oposto do muro da aldeia, o degredo, a segregação!
    E nessa situação temos a condição primeva do domínio do licencioso, a proposta judia, a ameaça rapace, onde os andeãos têm duas opções, ou saem para caçar os alijados ou os alijados se agruparão e irão virar os saqueadores que em menor número em relação à aldeia que os alijou, terão a oportunidade de agrupar em alijados de outras aldeias tornando-se um exército brancaleônico!
    Ou seja, ficarão em maior número de cada aldeia individual, e essas terão que se aliar para parar o ataque dos alijados e o farão.
    Eventualmente os alijados ameaçados irão tomar uma aldeia (um tanto dificil porque as unidas tomarão de novo deles, mas não descartável, porque é comum as dissenções nos grupos) ou até construir uma aldeia pária, uma aldeia marginal, a capital do licencioso.
    E para lá migrariam todos os desajustados.

    Continua

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  3. Assim, se percebe que mais eficaz e desestressante é a proposta aldeã que permite que cada qual viva com seu semelhante impedindo a causa maior do caos social, a diferença de qualidade individual. Os desiguais tem que ficar longe dos desiguais, e os iguais... bem esses não existem! A diferença de qualidade intrínseca é normativa em qualquer proposta evolutiva, e a desqualidade é aquela que é gerada pelo sexo deseletivo, a reprodução permitida aos néscios, aos fracos.
    Com esse esquema se garante a boa gestão da humanidade. Pois as cidades licensiosas terão a população aumentada até um pouco mais por conta do risco de paridos sem qualidade até em meio aos capazes, mas a qualidade inversamente proporcional irá garantir muita cizânia na cidade licenciosa, e com isso se matarão com alguma frequênncia em combates sectários, equilibrando as populações e evitando o confronto!
    Concluindo, percebemos que nossa sociedade com toda sua degeneração visceral é oriunda de uma aldeia licenciosa, que expandiu ao ponto de tomar tudo! Com essa percepção vemos que fica faltando os outros, os capazes!
    Não tem sentido eles deixarem para as hordas néscias todo o ambiente, logo, a única explicação e que eles acharam algo supinamente mais substancioso como bioma!
    E naturalmente, como qualquer espécie em franca expansão só lhes sobra o desbravar de novas possibilidades!
    E aí, chegamos onde gostaria, nós como os herdeiros da borra total, vemos sobretudo em sociedades completamente diferentes, as propostas míticas, os reinos encantados da exuberância, mas por conta de nossa mediocridade nos limitamos a procurar esses reinos dentro de nosso escopo cognitivo, ou seja, só enxergamos aonde nossos métodos e sistemas de detecção conseguem abarcar!
    E com isso ficamos sem a melhor parte do bolo, a cereja, aquilo que não conseguimos enxergar! E as propostas religosas vem em encontro dessa incapacidade cognitiva!
    E o resultado é o afundamento, pois é evidente que o poder visionário é individual e intransferível! Logo, ficam todos afundados em suas mediocridades enquanto os visionários falam de coisas das quais eles mesmos não têm a sintáxe necessária de entendimento e explanamento aos outros!
    Entendido isso só nos resta voltar a questão primária que garantiu aos melhores as melhores aldeias, o fortalecimento do todo, ou seja, a potencialização individual.
    Resumindo a bagaceira, só nos resta ficar fortes, muito fortes, pois só fortes teremos as ferramentas para descortinarmos as possibilidades permitidas só aos capazes, e essas possibilidade só podemos auferir e não constatar por conta de nossa fraqueza!
    Assim só o fortalecimento garante o entendimento progressivo e consonante com a expansão da consciência, o abrir das portas da percepção!
    Não desmerecendo da concatenação platônica, entendo que ela é aplicavel por falta de uma qualidade individual superior, e na falta dessa não há evolução, há inerciação. E somos obrigados forçosamente a descartar a república ou outro regime social! Somos obrigados à proposta da responsabilidade indivdual, a autarquia!

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    1. Caro Vapera!

      Há três considerações que irei inicia sobre suas considerações:

      1º Khomeini coloca bases platônicas em seu regime, todavia, o substrato onde os postulados platônicos atuam no Irã é da população iraniana no que toca biológico, e a tradição abraâmica no que toca a mentalidade. Portanto, temos um combinação de tradição abraâmico com indo-europeia. Só isso já é motivo de atrair a antipatia dos regimes plenamente abraâmicos: Israel, Arábia Saudita e ISIS, por exemplo, por motivos respectivamente diversos, que combinam desde o fanatismo cego até o racionalismo friamente calculado, conforme a combinação de fanatismo e racionalismo que resulte das contingências de cada um dos três grupos mencionados (Israel, Arábia Saudita e ISIS).

      2º Todas suas considerações são colocadas por Platão, e inclusive há uma obra dele que reúne duma vez todas elas, a saber, a 'República', a qual conjuga fatores biológicos/raciais, psicológicos e transcendentes. Todavia, por questões amplas e profundas Platão expõe uma progressão descendente que vai da aldeia coesa na excelência biológica/racial/psicológica/transcendente que ao mesmo tempo que aumenta em população perde em qualidade dos atributos mencionados, indo do governo da excelência (aristocracia, ariston - o melhor / virtuoso, de arete excelência), passando pelo governo da coragem e nobreza mas sem tanta sabedoria (timocracia, do thymos - impulso corajoso para o certo que existe na alma), oligarquia (governo dos empreendedores, que cede espaço aos gananciosos), democracia (governo das massas já esvaziadas de satisfatório teor cultural), Tirania (governo do mais forte porém inescrupuloso e explorador, egoísmo investido de força), culminando na dissolução total (anarquia ou desgoverno). Em cada etapa existem procedimentos de retomada do nível anterior superior perdido, mas quanto mais embaixo se está nos tipos de governo delineado, menor chance há de restabelecimento da ordem e excelência.

      3° Questões como "Quanto tempo dura a estabilidade de um povo", "natureza cíclica do universo e do homem" e "perfeição como meta de existir, como única postura que permite todos seres crescerem, independente do nível de cada um (o que importa é ser eu o melhor que posso e não ficar preocupado em ser melhor que o outro por inveja, mesmo que para isso tenha que rebaixar o todo) são considerações todas colocadas na República, em detalhe ou de passagem, mas presente no conjunto da obra platônica em detalhes quando uma temática é tratada especificamente e suas conexões com outras temáticas são abordadas de modo pertinente nestas obras específicas para esboçar uma conexão geral dos temas no próprio universo e dinâmica da vida.

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    2. Como complemento deste artigo de Aline Utrata sobre o platonismo no Irã, leia este artigo "Oswald Spengler: Uma introdução para sua Vida e Idéias - por Keith Stimely" que aborda uma apresentação de dinâmica histórica cíclica, indo dos momentos de auge cultural à dissolução civilizatória, inclusive aborda os dosi conceitos abaixo:

      Cultura como cultivo consciente da virtude, presente em núcleos iniciais (que chamaste de aldeia)
      Civilização como participação inconsciente das massas na estrutura que uma cultura construiu e cresceu, e por permitir crescimento populacional sem o devido cultivo de consciência, chega ao ponto de ruptura e início de dissolução dos povos.

      Oswald Spengler: Uma introdução para sua Vida e Idéias - por Keith Stimely
      https://worldtraditionalfront.blogspot.com/2018/05/oswald-spengler-uma-introducao-para-sua.html

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